sábado, 27 de abril de 2013

Educação Sentimental


A EDUCAÇÃO DOS SENTIMENTOS.



*Karla Júlia Marcelino


RESUMO

A compreensão do significado desses sentimentos, identificando como eles se manifestam no ser, torna-se um passo imprescindível para a mudança comportamental e consequente melhoria das relações intra e interpessoais. Os nossos pensamentos, sentimentos, palavras, ações refletem as crenças, valores, visão de mundo internalizadas através da educação. A educação dos sentimentos que geram estados de sofrimentos possibilitará alcançar uma maior compreensão quanto às suas origens, causas e consequências. Através da educação dos nossos próprios sentimentos, estaremos desenvolvendo habilidades necessárias, alcançando o equilíbrio entre o pensar, sentir e agir e conseqüentemente, melhorando as nossas relações humanas e profissionais.

Palavras-chave: Educação. Sentimentos. Conhecimento.

Introdução

 Estamos diante de um mundo globalizado e competitivo, em constantes transformações. As organizações enfrentam desafios de ordem econômico-social, política e financeira, onde os dirigentes, gestores e líderes organizacionais se deparam com novos conceitos e metodologias, inovação tecnológica, numa velocidade acelerada que, quando começam a ser processadas, os paradigmas já se alteraram. A internet facilitou o acesso às informações, o que antes era privilégio de poucos e podemos falar da era virtual vivenciada naturalmente por milhões de criaturas. Contudo, ainda somos os grandes desconhecidos de nós próprios. Os sentimentos, emoções, pensamentos, atrações, repulsas, simpatias e antipatias manifestam-se ainda de forma incompreensível e sem controle, dificultando as relações intra e interpessoais. Os erros alheios são visíveis aos nossos olhos, contudo, e os nossos defeitos e tendências negativas, são devidamente observadas por nós?

* Graduação em Serviço Social. Atualmente exerce o cargo de Ouvidora Geral do Estado em PE, é instrutora do curso Implantação e Gestão de Ouvidoria no IRH e  Gestão de Ouvidoria da Pós-Graduação na ESURP. Tem pós-graduação em Gestão Governamental (Fundação Getúlio Vargas), Gestão Pública e Serviços Sociais (UFPE) e Intervenção Psicossocial à Família no Judiciário (UFPE).  Mestranda do Curso Psicologia Social e Organizacional do Instituto Superior de Línguas e Administração – UNISLA-Portugal.Consultora Organizacional.E-mail:karlajuliam@bol.com.br


A palavra educação vem do latim “educare ou educere. Provérbio: e, verbo ducare, ducere. Significa ato de educar; conjunto de normas pedagógicas aplicadas ao desenvolvimento geral do corpo e do espírito. Promover educação; transmitir conhecimentos; ensejar condições para o educando modificar para melhor” (Dicionário Aurélio).

Kardec, eminente pedagogo francês (1857) nos esclarece que:

A educação, se for bem compreendida, será a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres como se conhece a de manejar as inteligências, conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e profunda observação.

Na Wikipedia (2010), encontramos uma definição de Sentimentos:

de forma genérica são informações que seres biológicos são capazes de sentir nas situações que vivenciam. Abraham Maslow, professor de Harvard comentou que todos os seres humanos nascem com um senso nato de valores pessoais positivos e negativos. Somos atraídos por valores pessoais positivos tais como justiça, honestidade, verdade (...).Atualmente o termo sentimento é também muito usado para designar uma disposição mental, ou de propósito, de uma pessoa para outra ou para algo. Os sentimentos assim, seriam ações decorrentes de decisões tomadas por uma pessoa.

Geralmente confunde-se sentimentos com emoções. Sentimentos são estados afetivos produzidos por diversos fenômenos da vida intelectual ou moral. De forma geral, pode-se afirmar que os sentimentos são duradouros e fáceis de esconder; já as emoções, por serem corporais e espontâneas, são mais visíveis (mãos suadas, choro, riso...). Como nos explica Jolivet (1964, p.73) “emoção é um fenômeno afetivo complexo, provocado por um choque brusco e compreendendo um abalo mais ou menos profundo na consciência”. C. LAHR (1964) também explica que emoção é o estado afetivo intenso muito complexo proveniente da reação ao mesmo tempo mental e orgânico do indivíduo todo, sob a influência de certas excitações internas ou externas, pois, nisto se vê a diferença existente com o termo sentimento.

Enquanto nos comprazemos nas paixões, reincidindo nos erros, numa atitude desatenta quanto aos aspectos que necessitam serem modificados ou burlados na nossa intimidade, enfrentaremos angústias e conflitos existenciais. As oportunidades do aprendizado na convivência com o próximo e consigo mesmo não devem ser desperdiçadas.



1. Auto-Conhecimento

Para Eugênio Mussak (2003, p. 62,65),

Conhecimento é informação com significado, capaz de criar movimento, modificar fatos, encontrar caminhos, construir utilidade (...). Conhecimento é algo pessoal, propriedade de quem o detém, e não pode ser transferido de uma pessoa a outra por inteiro, com todas as suas características, sentimentos, detalhes e significados (p.62).


O conhece-te a ti mesmo, conforme nos ensinou um sábio da antiguidade (Sócrates), será o meio mais prático de transformação interior. Quando por livre e espontânea vontade, não nos dispomos a enveredar neste processo de auto-conhecimento, buscando identificar o porquê das nossas reações negativas aos fatores externos no relacionamento social, somos impulsionados pelos entre-choques afetivos com aqueles do nosso convívio (família, trabalho, grupos sociais) a nos conhecer. Aprendemos muito na convivência social, através de nossas reações com o meio e as manifestações que o meio nos provoca, atingindo-nos emocionalmente. No convívio com o próximo, aprendemos a identificar nossas reações indesejáveis de comportamento e a discipliná-las. O conhecer-se é o próprio processo de auto-conscientização do reconhecimento de nossas limitações e da mobilização de esforços em superá-las.

Os nossos pensamentos, sentimentos, palavras, ações refletem as crenças, valores, visão de mundo internalizadas através da educação. A educação dos sentimentos que geram estados de sofrimentos possibilitará alcançar uma maior compreensão quanto às suas origens, causas e consequências. Relacionaremos a seguir, conforme Ney Prieto Peres (1991, p.77 a 109), alguns dos sentimentos negativos de conotação “perturbadora” e como eles se manifestam no nosso cotidiano:


. Orgulho

Principais reações e características do tipo predominantemente orgulhoso:
- Amor próprio muito acentuado, contraria-se por pequenos motivos;
- reage explosivamente a quaisquer observações ou críticas de outrem em relação ao seu comportamento;
- necessita ser o centro de atenções, fazer e prevalecer sempre as suas próprias idéias;
- não aceita a possibilidade de seus erros, mantendo-se num estado de consciência fechado ao diálogo construtivo;
- menospreza as idéias do próximo;
- ao ser elogiado por quaisquer motivos, enche-se de uma satisfação presunçosa, como que se reafirmando na sua importância pessoal;
- preocupa-se muito com a sua aparência exterior, seus gestos são estudados, dá demasiada importância à sua posição social e ao prestígio pessoal;
- acha que todos os seus circundantes (familiares e amigos) devem girar em torno de si;
não admite e humilhar diante de ninguém, achando essa atitude um traço de fraqueza e falta de personalidade;
- não admite se humilhar diante de ninguém, achando essa atitude um traço de fraqueza e falta de personalidade;
- usa da ironia e do deboche para com o próximo nas ocasiões de contenda.


. Vaidade

A vaidade é decorrente do orgulho, e dela anda próxima. A vaidade, nas suas formas de apresentação, quer pela postura física, gestos estudados, retórica no falar, atitudes intempestivas, reações arrogantes:

. A Inveja

A inveja reflete a fragilidade em que vivemos, deixando-nos consumir em desejos inconsistentes e ilusórios. Esse sentimento desencadeia no ambiente de trabalho situações vexatórias e abusivas, ocasionando processos de assédio moral, constituindo-se num quadro patológico de gravidade, por não suportar o invejoso em conviver e compartilhar com outros colegas de trabalho o sucesso da equipe. Os talentos e competências alheias lhe são insuportáveis.


. Ciúme

O ciúme anda próximo da inveja. Ambos são expressões da cobiça, e se manifestam no nosso desejo de posse ou na nossa condição possessiva, ambiciosa, egoísta. Quando o ciúme se refere às pessoas do nosso relacionamento, é indício da paixão, do amor ainda condicionante, dominante, restritivo, exclusivista. O ciúme impõe condições.  Assim,quase sempre se origina a inconformação, o desespero, o desentendimento.


. Avareza

A avareza diz respeito igualmente ao apego específico ao dinheiro e aos objetos materiais que possuímos. O homem avaro é o egoísta que nega o auxílio pecuniário a quem lhe bate à porta, desprezando as oportunidades de servir e até mesmo de ouvir quem lhe venha pedir socorro. O avaro centraliza sua preocupação na aquisição do dinheiro ou nas diversas formas de enriquecimento. Para ele, o objetivo principal da existência é o dinheiro e que ele lhe proporciona para usufruto. O zelo demasiado quando relutamos em emprestar algumas das nossas quinquilharias, com receio de perdê-las ou desgastá-las, é uma forma de avareza, como também um aspecto de ciúme. A mania de guardar por tempo indeterminado, até mesmo sem usar jóias, roupas ou outros pertences pessoais, reagindo em dar a alguém que mais necessite.


. Ódio

O ódio é uma manifestação dos mais primitivos sentimentos do homem animal, que ainda guarda no espírito em evolução os resquícios do instinto de conservação, sob as formas de defesa, de amor-próprio. O ódio se manifesta desde os aspectos mais sutis, dissimulado na hipocrisia social e nas formas de antipatias, aos atos mais cruéis e brutais de violência. O ódio se apresenta como um sentimento, uma emoção incontida, um impulso que, ao nos dominar, expressamos através de palavras ofensivas, quando contraímos o coração, cerramos os maxilares, fechamos os punhos e soltamos faíscas vibratórias de baixo padrão, sintonizados com as entidades malévolas, que assim podem nos envolver, instigando-nos até ao crime. Os ódios são despertados pelas humilhações sofridas, ou quando injustiçados, maltratados, traídos no afeto, na confiança ou quando ofendidos. Junto ao ódio encontramos o rancor, que é a permanência dele, nas promessas feitas a nós mesmos de revide. a vingança é sua decorrência.

. Egoísmo

O egoísmo se funda na importância da personalidade (ego + ísmo) e conforme encontramos na wikipédia é o hábito ou a atitude de uma pessoa colocar seus interesses, opiniões, desejos, necessidades em primeiro lugar, em detrimento (ou não) do ambiente e das demais pessoas com que se relaciona. Neste sentido, é o antônimo de altruísmo


. Intolerância

O intolerante não perdoa, nem mesmo atenua as falhas humanas e, por isso, falta-lhe a moderação nas apreciações para com o próximo; vê apenas o lado errado das pessoas, o que em nada estimula o bem proceder; é a qualidade do indivíduo intransigente.


. Impaciência

É a incapacidade de suportar algo ou alguém, de se constranger ou de esperar. O indivíduo impaciente é tipicamente nervoso, apressado. O indivíduo impaciente torna-se intolerante com as falhas alheias, não respeitando o tempo do outro e suas limitações.

A compreensão do significado desses sentimentos, identificando como eles se manifestam no ser, torna-se um passo imprescindível para a mudança comportamental e consequente melhoria das relações intra e interpessoais. Empatia é a capacidade de se colocar no lugar da outra pessoa, de entender o seu estado de espírito.

Ouvir significa ter paciência e tolerância para aceitar a outra pessoa como ela é, com suas qualidades e defeitos, crenças e emoções, sem pré-julgamentos. Conforme nos diz Penha “Ouvir é mais que uma atitude de educação, é sinônimo de inteligência porque em geral, as pessoas têm sempre algo importante a nos dizer, que às vezes pode fazer toda a diferença no nosso próprio trabalho " (2008,93).

O conflito surge quando há a necessidade de escolha entre situações que podem ser consideradas incompatíveis. Todas as situações de conflito são antagônicas e perturbam a ação ou a tomada de decisões por parte da pessoa ou de grupos. É um fenômeno subjetivo e de difícil percepção. Segundo estudo de psicólogos especialistas em relacionamento humano, a eficiência em lidar com outras pessoas é muitas vezes prejudicada pela falta de habilidades, de compreensão e de trato interpessoal. As pessoas que têm mais habilidades em compreender os outros e têm traquejo interpessoal são mais eficazes no relacionamento humano.

Assim, através da educação dos nossos próprios sentimentos, estaremos desenvolvendo habilidades necessárias, alcançando o equilíbrio entre o pensar, sentir e agir e conseqüentemente, melhorando as nossas relações humanas e profissionais.

Referências
. JOLIVET, Régis. In: FONTANA, D. F. Filosofia do Vestibular. São Paulo, Saraiva, 1964, p. 73.
. Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos: Filosofia Espiritualista. São Paulo, 51 º Edição,Lake, 1991.
. LAHR, C. In: FONTANA, D. F. Filosofia do Vestibular. São Paulo, 1964, p. 70.
. Mussak, Eugenio. Metacompetência: Uma nova visão do trabalho e da realização pessoal.são Paulo:Editora /gente, 2003, p.62,65.
. PENHA, Cícero Domingos.Atitude é querer:como a atitude faz a diferença na carreira, nos negócios e na vida.Rio de Janeiro:Qualitymark, 2008, p.93.
. PERES, Ney Prieto. Manual prático do Espírita. São Paulo:Editora Pensamento, 1990, p.78 a 109.
.Wikipedia. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/sentimento. Acesso : 21 de set.2010.

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